Women Now acompanha as mulheres imigrantes diante dos diversos desafios vividos em suas trajetórias migratórias, em uma abordagem inclusiva e compassiva. Após o desenvolvimento do acompanhamento individual, a associação agora busca desenvolver outro tipo de suporte para torná-lo mais completo e diversificado. Para isso, diferentes grupos de conversa e apoio estão sendo criados. Um deles aborda os desafios relacionados ao processo de migração e integração em um novo país. Surge então a pergunta: como o grupo oferece um espaço específico para as mulheres imigrantes?
Durante nossas sessões, cada participante se apoia na presença umas das outras, em seus recursos e na troca de experiências pessoais.
Para incentivar essas trocas, são propostas breves atividades, seja pelas facilitadoras, seja pelas próprias mulheres. Na primeira sessão, por exemplo, fizemos uma apresentação individual, utilizando diferentes imagens disponíveis. Cada participante foi livre para escolher algumas imagens para se apresentar através delas.
Assim, buscamos facilitar os primeiros contatos e criar uma base de confiança. Juntas, elas formam agora um grupo social, que podemos até chamar de rede social com muitos recursos!
De forma geral, esse ambiente social desempenha um papel importante em diversos processos psicológicos. Primeiramente, o apoio oferecido ajuda a diminuir o estresse aculturativo e os problemas de saúde física e mental causados por esse mesmo estresse (Lueck e Wilson, 2010). A trajetória migratória é uma jornada longa repleta de momentos de alegria, mas também de dificuldades a enfrentar. O ambiente social pode oferecer recursos úteis para lidar com esses diferentes estresses (Katsiaficas et al, 2013; Kim et al, 2008).
Um de nossos objetivos por meio do grupo de apoio, que constitui um ambiente social compassivo, é, portanto, reduzir o estresse aculturativo de nossas participantes, cuja intensidade será diferente dependendo, entre outros fatores, das razões para a partida, mas também de um indivíduo para outro. Nossas participantes não são um caso isolado: é um estresse que afeta qualquer pessoa com uma jornada migratória e, portanto, é parte de um processo comum e legítimo.
No entanto, também buscamos fortalecer os processos de resiliência e agência de nossas participantes. São dois processos psicológicos que envolvem encontrar estratégias para lidar ou se adaptar a situações difíceis (Scott et al, 2009; Masten, 2015; Feder et al, 2011). Estar rodeado pode, portanto, promover o poder de agir. Um forte suporte social é útil para pessoas imigrantes em sua capacidade de se tornarem ou voltarem a ser protagonistas de suas vidas.
Através de nossos grupos de conversa, buscamos criar um ambiente social significativo que fortalecerá os processos de resiliência e agência. (Kamanzi et al, 2007). O grupo gera uma dinâmica propícia ao desenvolvimento de solidariedade e recursos psicológicos para enfrentar a realidade (Raybaud-Macri, 2017).
Por fim, é claro que este é um espaço de conversa compassivo, onde cada uma pode ser ouvida. Poder compartilhar sua história com outras mulheres com experiências semelhantes faz com que não se sintam sozinhas diante da situação. De fato, a participação ativa de cada uma reforça o sentimento de compreensão (Pariente, 2020). Os múltiplos testemunhos encorajam as outras em sua própria jornada diante dos desafios dos processos migratórios.
Nossos grupos de conversa podem então ser a porta de entrada para a construção de um ambiente social compassivo, útil para enfrentar os desafios do processo migratório enfrentados por essas mulheres. Já observamos uma redução do estresse aculturativo graças a uma agência e resiliência facilitadas. Na verdade, apesar das diferentes jornadas migratórias, as mulheres puderam compartilhar, ouvir e se apoiar diante das diferentes situações vividas, criando assim um ambiente compassivo e empático.
Margaux Laurens
Estagiária de psicologia social na Women Now
*Resulta dos esforços da pessoa para minimizar ou resolver as diferenças culturais com a cultura de acolhimento (Born, 1970). O estresse aculturativo é, portanto, uma resposta aos eventos vivenciados pela pessoa em sua adaptação cultural.
Bibliografia
Born, D.O. (1970). Psychological adaptation and development under acculturative stress: Toward a general model. Social Science & Medecine, 3 (4), 529-547. http://dx.doi.org/10.1016/0037-7856 (70)90025-9
Feder, A., Haglund, M., Wu, G., Southwick, S. M., & Charney, D. S. (2011). The Neurobiology of Resilience. In Neurobiology of Mental Illness (p. 1144-1153). Oxford University Press. DOI: 10.1093/med/9780199934959.001.0001
Kamanzi, C., Zhang, X. Y., Deblois, L., & Deniger, M.-A. (2007). L’influence du capital social sur la formation du capital humain chez les élèves résilients de milieux socioéconomiques défavorisés. Revue des sciences de l’éducation, 33(1), 127-145. https://doi.org/10.7202/016192ar
Katsiaficas, D., Suárez-Orozco, C., Sirin, S. R., & Gupta, T. (2013). Mediators of the relationship between acculturative stress and internalization symptoms for immigrant origin youth. Cultural Diversity and Ethnic Minority Psychology, 19(1), 27-37. https://doi.org/10.1037/a0031094
Kim, H. S., Sherman, D. K., & Taylor, S. E. (2008). Culture and social support. American Psychologist, 63(6), 518–526. https://doi.org/10.1037/0003-066X
Lueck, K., & Wilson, M. (2010). Acculturative Stress in Asian Immigrants : The Impact of Social and Linguistic Factors. International Journal of Intercultural Relations – INT J INTERCULT RELAT, 34, 47-57. https://doi.org/10.1016/j.ijintrel.2009.10.004
Masten, A. S. (2015). Ordinary Magic : Resilience in Development. Guilford Publications.
Pariente, K. (2020). 49. Groupes de parole et thérapies de groupe. Dans : Marianne Kédia éd., Psychotraumatologie (pp. 498-503). Paris: Dunod. https://doi.org/10.3917/dunod.kedia.2020.01.0498
Raybaud-Macri, F. (2017). Le groupe de parole: Un soutien thérapeutique. Les Cahiers Dynamiques, 71, 162-166. https://doi.org/10.3917/lcd.071.0162 Scott, J., & Marshall, G. (2009). A Dictionary of Sociology. Oxford University Press.